Título: Camundo O Desenho e a
Sombra
Autor: Nanuka Andrade
Número de Páginas: 379
Editora: Underworld
Nota de 1 a 5: 4
Um livro com crianças; não um livro para
crianças. Esta frase pode definir muito bem a impressão que o leitor tem ao
entrar em contato com a obra. Com vocabulário rico e, às vezes, até um pouco
rebuscado, Camundo O Desenho e a Sombra nos mostrará a jornada que um menino,
sensível ao Sol, percorrerá para desvendar mistérios, entender seu passado e a
si mesmo.
No começo, a leitura segue muito estranha e
parada. O autor vai narrando de maneira muito aleatório e o leitor não entende
o motivo de tantos pequenos detalhes. Personagens vão sendo apresentados e o
próprio Camundo tanto quanto seu talento são pouco explorados, pairando sempre
uma curiosidade no ar. Quem é este menino? Do que realmente ele é capaz? Por
que seus desenhos mostram coisas terríveis, que acabam acontecendo logo em
seguida?
Camundo não tem família e por isso mora num
asilo de desvalidos. Mariana, a arrumadeira, é sua única companhia neste local,
e parece ser a única que realmente se preocupa com o menino. A mulher ajuda
Camundo a fugir, e ele acaba encontrando abrigo na casa de um rico e influente
ervateiro, Elano Duarte. Será nesta casa que Carlos – o verdadeiro nome de
Camundo (Camundo é apenas o “apelido” que cada menino no Asilo possui, e tem
sua origem na palavra camundongo) – entenderá que sua existência e seu Dom
possuem muito mais história do que ele realmente poderia imaginar.
O livro possui muitos personagens. Cindina,
Malini, Quinzinho, Hans e o Chefe de Polícia são alguns dos que compõem esta
obra. Conhecemos também a existência dos Asseclas do Lagarto, mas estes demoram
a ser apresentados devidamente.
Camundo O Desenho e a Sombra demora a nos
convencer de sua história. A obra envolve diversas questões e, no início,
parece que a história não vai dar certo. Como, por exemplo, cogita-se que haja
uma sociedade que habita o interior da Terra, e que também haja uma passagem
justamente em Curitiba, onde se passa a história, que conecta o nosso mundo a
esta sociedade duvidosa. Tudo parece muito fantástico e logo surgem
questionamentos: mas e o que isso tem a ver com a vida de Camundo?
“Já aviso que antes de mim, estiveram aqui.
Homens que reúnem-se em câmaras secretas como a noite, bebem de uma fonte pagã
e agem como loucos. Morcegos encapuzados que entoam cânticos macabros é o que são.
Tão macabros que chegam a dar arrepios aos mais corajosos.
Agi como a própria sombra de uma estalagmite,
o que é bem natural, já que se me vissem, não estaria aqui para apontar minhas
impressões. Mas pude ver que são espertos e organizados como a peste. Usam um
estandarte em forma de lagarto que não passa de um Ouroboros. Mas não como uma
serpente que é comum de se ver, mas um lagarto em círculo mordendo a própria
cauda. Sei que símbolos assim representam mudança. Sim, ao sair da posição
linear, mordendo o próprio rabo, este Lagarto nos diz que uma nova era está por
vir àqueles que seguirem o Lagarto.
Poderia passar dias escrevendo sobre o que
vi. Mas a cidade que mencionei nas primeiras páginas deste diário merece muito
mais. Edificações majestosas, vielas e ruas que fariam de Londres um vilarejo.
Sim, podemos dizer que são ruínas daquilo que foi uma grande e maravilhosa
metrópole.
Pois os tais homens, os que entoam cânticos,
parecem ter dominado algo de muito poderoso, e vivem ali, numa espécie de
acampamento. Receio dizer que até tenham planos vis.”
(Trecho de um relato
escrito por Saulmers – um personagem da história – e traduzido não oficialmente
por outro personagem, página 245)
Camundo, o próprio
menino, deixou um pouco a desejar. Na maior parte do enredo Malini, filha de
Elano Duarte, rouba a cena. Com seu jeito mandão e sua esperteza, boa parte dos
mistérios são resolvidos pela menina. Camundo surpreende mais no final, quando
a história está para acabar, e isto gera um puco de decepção.
Uma outra questão, que não tem propriamente
relação direta com a história, é a revisão. Depois de 2 livros lidos, da mesma
editora, muito “mal-revisados”, Camundo O Desenho e a Sombra teve uma revisão
muita mais cautelosa (erros mínimos passaram direto como, por exemplo, falta de
espaçamento entre palavras – porexemplo dessejeito). Então nada mais justo que
parabenizar o responsável pela revisão desta obra em especial: Nanie Dias.
Não podemos esquecer das maravilhosas
ilustrações feitas pelo próprio autor. São muito lindas e merecem um parágrafo
reservado especialmente a elas. A cada capítulo somos “presenteados” com um
gostinho do que está por vir, e os desenhos tornam a obra muito mais rica.
Camundo O Desenho e a Sombra terá
continuação, mas podem ler sem medo, pois o livro não termina abruptamente, uma
vez que tem um “fim”.
Por: Milla Pechta